Eram três e meia da manhã, e ele carregou no habitual botão da
recepção.
O elevador desce. Eu transpiro, sei o que me aguarda. Aquela
camisa batida de cerveja e impregnada de tabaco, charme manchado pintado
de musk, resplandece na escuridão do lobby. Acabou de acordar. Pede uma
imperial, diz que tem fome, e começa o seu discurso com uma promessa de
homícidio a um sul americano.
É açoreano e vive em Boston há mais de 35
anos. As suas paixões? Kátia Aveiro, Cristiano Ronaldo e a fábrica de
cablagem onde trabalha.
Não gosta dos americanos - e acrescenta que
quando lhe foi dada a cidadania americana, chorou e disse ao notário que
fazia o "I swear by God defending the United States of America of all
nations besides Portugal".
Poupou 7000 dólares para vir ver o maior do
mundo a Madrid. Chorou no treino, comeu uma espanhola a quem liga (no
interromper da nossa conversa) e a quem decide largar uns "queres é
malhar, minha puta".
Diz-me que amigos, nem ele, e preferiu papar uma
Romena quando a espanhola foi trabalhar. Trata o Cristiano Ronaldo por
Cris, diz-me que já deixou mensagem à Kátia referindo a sua localização
habitual: Malhá-la é, também, uma opção.
Diz-me que, depois de a malhar,
vai ser amigo pessoal do Cris. Dá-me um porta-chaves do Real Madrid.
Chora outra vez e assoa-se ao cachecol quando me conta que furou o
cordão de força policial e investiu contra o autocarro para chamar a
atenção da sua "star". A sua star mandou-lhe um beijinho fraterno de
dentro do autocarro, mandou-o afastar, e terminou pisado pelo cavalo da
polícia.
Pergunto-lhe o número do quarto, abro o processo, e sinto-lhe o nome luso-americano: John Rebelo.
Ele vive, e é Açoreano.
2 comentários:
Ó pá...tão simples e tão bom
:D
Mérito do maestro.
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